Ela achará conforto debaixo do chuveiro, debaixo da água pensa pouco, quando desliga volta a pensar muito. Ela para, sente a água deslizar sobre seu corpo, fecha os olhos e deixa a água escorrer sobre seu rosto, desliga, agacha e fica de cócoras, fica em uma posição tranquila em que possa urinar perto do ralo, levanta, volta a ligar a água, volta a sentir a água em seu rosto, deixa ela massagear o peso dos ombros, se espreguiça e com movimentos bem uniformes estala os cotovelos, desliga, põe as mãos na parede, parece pensar, sonha: sai molhada do box, se seca e vai direto pra cama, parece esperar alguém, alguém chega, parece estar com sono que nem ela, dessa vez não irá passar o secador no cabelo, irá dormir de cabelos molhados, a pessoa deita ao lado dela, se abraçam e depois dormem. Dormem um sono profundo, os anjos estão ali, os anjos observam.
Ela acorda, começa a se ensaboar e suavemente vai passando o sabonete sobre seu corpo, apalpa os seios, ao chegar nos mamilos faz movimentos circulares com os dedos, se sente aliviada, se sente segura, desliga, terminou o banho, se seca com a toalha, passa o secador nos cabelos úmidos, fixa o olhar no espelho do banheiro um pouco embaçado, se observa, pensa que está ficando velha, acha que está perdendo seu encanto, continua a olhar fixamente no espelho, se vira, abri o blindex do box e entra, liga a água e volta a sentir a água sobre seu rosto, parece pensar, sonha: quer se deitar, sentir os abraços e dormir lentamente em claro, em descanso com quem ela tanto espera.
Ilustração: Gustave Courbet - O sono
Texto: Victor Bello
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