domingo, 28 de setembro de 2008

O grafiteiro dos sonhos


Sou grafiteiro das brumas, trovas, limoeiros. Grafito todo o início do século, grafito devaneios nos muros, ando descalço sobre as paredes desenhando as faces da babilônia acinzentada, percorro obras inacabadas, me atiro no teatro mamulengo e bunraku, escrevo um oásis nas mãos e lanço meu foco na retina de quem passa aqui. Vejo Pasolini na tala, capto Picasso no birro, ouço Asian Dub na tinta. Também sou grafiteiro das palavras, sou cafetão de novas idéias, rasbiscando no alto o vazio à flor da pele. Tatuando o chapisco, eu escrevo em imagens falas, veias, trabalhos, emoções, sou o cio da arte que vem para deixar rastros, sou grafiteiro das utopias rubricadas, sou grafiteiro das minhas telas roubadas, sou o grafiteiro dos sonhos.

Ilustração photoshop: Victor Bello
Texto: Victor Bello

Ouvindo: Nina Simone - Here comes the sun (François K remix)

Mestre Ben



Jorge Ben, floresceu e iluminou com maestria a música brasileira na década de 70. E se você for buscar discos como Tábua de Esmeraldas, Salve Simpatia e África Brasil da mesma década vai confirmar o que aqui está escrito e se for fuçar ainda mais vai dar de cara com um disco chamado "Negro é Lindo" de 1971, nesse disco Jorge nos presenteia com tamanho deleite, faixas lindas, de admirável sensibilidade, talento e indícios de suas experimentações que permeiam vários discos ao longo de sua carreira. Faixas como "Negro é lindo", fazem você suspirar encanto, "Cassius Marcello Clay" uma aula, "Que maravilha" que recebeu várias versões posteriormente aqui tem sua cadência e suavidade original e "Porque é proibido pisar na grama", a faixa do disco que mais gosto, Jorge como um cronista dos tempos, exala um perfume de sutileza apaixonada e com muita inspiração emociona e fascina nossos dias. A música de Jorge tem amor, a música de Jorge é poderosa, Salve Jorge, posto aqui embaixo a letra de "Porque é proibido pisar na grama" e o disco "Negro é Lindo". Bom proveito

Porque é proibido pisar na grama

Acordei com uma vontade de saber como eu ia

E como ia meu mundo

Descobri que além de ser um anjo eu tenho cinco inimigos

Preciso de uma casa para minha velhice

Porém preciso de dinheiro pra fazer investimentos

Preciso às vezes ser durão, pois eu sou muito sentimental meu amor

Preciso falar com alguém que precise de alguém, pra falar também

Preciso mandar um cartão postal para o exterior, pra meu amigo Big Joney

Preciso falar com aquela menina de rosa, pois preciso de inspiração

Preciso ver uma vitória do meu time, se for possível vê-lo campeão

Preciso ter fé em Deus e me cuidar e olhar minha família

Preciso de carinho, pois eu quero ser compreendido

Preciso saber que dia e hora ela passa por aqui e se ela ainda gosta de mim

Preciso saber urgentemente. Porque é proibido pisar na grama


Link do disco "Negro é lindo": http://lix.in/f93f3c29


Ouvindo: Jorge Ben - Porque é proibido pisar na grama

domingo, 21 de setembro de 2008

O quarto 4


O número 4 o persegue, ele tenta inverter isso.

Em um quarto de hotel, espera o telefonema dela, parece cenário de um filme noir, na lembrança “Império do crime”, de Joseph H. Lewis, filme que adora. Deitado na cama com as pernas abertas, a camiseta branca e a bermuda xadrez só levanta para acender as inúmeras pontas de cigarro que ainda consegue fumar. As horas passam turvas, a cabeça cansada, latejando a imagem dela. Pensa o quanto é vulnerável, pensa em demasia sobre ela e isso o atrapalha, pensa sobre os mistérios e sobre os gostos por qualquer algo que a dê prazer, sabe que um dos seus artifícios é ligar para ele, para enaltecer seu ego. Ele, seu termômetro de vaidade.
Levanta da cama, liga a tv, o abajur piscando prestes a esgotar seu sinal de luz, abri a janela, vê cinzas, somente cinzas, cinzas e escuridão, a cidade adormecida, as ruas da Glória são cena de um outro filme, não lembra qual. Ele pensa, começa a pensar em largar tudo, mudar de cidade, estado e país, pensa em começar a se desvencilhar, se envolveu demais agora é difícil escapar, pensa na frase de Pitágoras “O homem é mortal por seus temores e imortal por seus desejos”, é apenas uma frase, quando vai começar adotar frases em sua vida? Ele sabe, que ela se sente atraída por sua sensibilidade, gosta de abraçá-lo, essa doce ao mesmo tempo amarga ilusão que faz o número quatro o perseguir. Ela, porém, possui tatuado o número 8 deitado no pulso, mas o número dele é o 4, o quarto de número 4, de um hotel barato da Glória. A rua deserta, começa a amanhecer, vê senhoras indo pegar a feira de domingo, vê diversas pessoas começando sua caminhada matinal, pensa em ir até a feira comer uma tapioca bem quentinha, comprar umas frutas, há tempos que não se alimenta bem, olha fixamente um vira-lata revirando os sacos de lixo da rua, o telefone toca, ele resisti em atender, não atendi, decidiu trocar de quarto, decidiu trocar de número.

Ouvindo: João Bosco – Feminismo no Estácio

Somos todos pós-modernos?


Excelente artigo de Frei Betto, extraído da revista Caros Amigos, de setembro de 2008.

Somos todos pós-modernos?
A resposta à pergunta acima é sim, se comungamos essa angústia, essa frustração frente aos sonhos idílicos da modernidade. Quem diria que a revolução russa terminaria em gulags, a chinesa em capitalismo de Estado e tantos partidos de esquerda assumiriam o poder como o violinista que pega o instrumento com a esquerda e toca com a direita?

Nenhum sistema filosófico, resiste, hoje à mercantilização da sociedade: a arte virou moda; a moda, improviso; o improviso, esperteza. As transgressões já não são exceções, e sim regras. O avanço da tecnologia, da informatização, da robótica, a gogletização da cultura, a telecelularização das relações humanas, a banalização da violência, são fatores que nos mergulham em atitudes e formas de pensar pessimistas e provocadoras, anárquicas e conservadoras.

Na pós-modernidade, o sistemático cede lugar ao fragmentário, o homogêneo ao plural, a teoria ao experimental. A razão delira, fantasia-se cínica, baila ao ritmo dos jogos de linguagem. Nesse mar revolto, muitos se apegam às "irracionalidades" do passado, à religiosidade sem teologia, à xenofobia, ao consumismo desenfreado, às emoções sem perspectivas.

Para os pós-modernos a história findou, o lazer se reduz ao hedonismo, a filosofia a um conjunto de perguntas sem respostas. O que importa é a novidade. Já não se percebe a distinção entre urgente e importante, acidental e essencial, valores e oportunidades, efêmero e permanente.

A estética se faz esteticismo; importa o adorno, a moldura, e não a profundidade ou o conteúdo. O pós-moderno é refém da exteriorização e dos estereótipos. Para ele, o agora é mais importante que o depois.

Para os pós-modernos, a razão vira racionalização, já não há pensamento crítico; ele prefere, neste mundo conflitivo, ser espectador e não protagonista, observador e não participante, público e não ator.
O pós-moderno duvida de tudo. É cartesianamente ortodoxo. Por isso não crê em algo ou alguém. Distancia-se da razão criticando-a. Como a serpente Uroboros, morde a própria cauda. E se refugia no individualismo narcísico. Basta-se a si mesmo, indiferente à dimensão social da existência.

O pós-moderno tudo desconstrói. Seus postuluados são ambíguos, desprovidos de raízes, invertebrados, sensitivos e apáticos. Ao jornalismo, prefere o shownalismo.
O discurso pós-moderno é labiríntico, descarta paradigmas e grande narrativas, e em sua bagagem cultural coloca no mesmo patamar Portinari e Felipe Massa; Guimarães Rosa e Paulo Coelho; Chico Buarque e Zeca Pagodinho.

O pós-modernismo não tem memória, abomina o ritual, o litúrgico, o mistério. Como considera toda paixão inútil, nem ri nem chora. Não há amor, há empatias. Sua visão de mundo deriva de cada subjetividade.

A Ética da pós-modernidade detesta princípios universais. É a ética de ocasião, oportunidade, conveniência. Camaleônica, adapta-se a cada situação.

A pós-modernidade transforma a realidade em ficção e nos remete à caverna de Platão, onde nossas sombras tem mais importância que o nosso ser; e as nossas imagens, que a existência real.

Frei Betto é escritor, autor de Calendário do Poder (Rocco), entre outros livros.

Ouvindo: O Rappa - Fininho da vida

Som dos irmãozinhos...


Trabalho de grandes amigos, que estão na batalha !!

Popó e o amor moderno
www.myspace.com/oamormoderno

Link para baixar o cd:
www.mediafire.com/download.php?83ww1zpdmhl

Projeto Prestes
www.myspace.com/projetoprestes

Bom proveito !!!

Ouvindo: Popó e o amor moderno - Muralha da China

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Histórias extraordinárias de chuveiro (parte um)


Ela achará conforto debaixo do chuveiro, debaixo da água pensa pouco, quando desliga volta a pensar muito. Ela para, sente a água deslizar sobre seu corpo, fecha os olhos e deixa a água escorrer sobre seu rosto, desliga, agacha e fica de cócoras, fica em uma posição tranquila em que possa urinar perto do ralo, levanta, volta a ligar a água, volta a sentir a água em seu rosto, deixa ela massagear o peso dos ombros, se espreguiça e com movimentos bem uniformes estala os cotovelos, desliga, põe as mãos na parede, parece pensar, sonha: sai molhada do box, se seca e vai direto pra cama, parece esperar alguém, alguém chega, parece estar com sono que nem ela, dessa vez não irá passar o secador no cabelo, irá dormir de cabelos molhados, a pessoa deita ao lado dela, se abraçam e depois dormem. Dormem um sono profundo, os anjos estão ali, os anjos observam.
Ela acorda, começa a se ensaboar e suavemente vai passando o sabonete sobre seu corpo, apalpa os seios, ao chegar nos mamilos faz movimentos circulares com os dedos, se sente aliviada, se sente segura, desliga, terminou o banho, se seca com a toalha, passa o secador nos cabelos úmidos, fixa o olhar no espelho do banheiro um pouco embaçado, se observa, pensa que está ficando velha, acha que está perdendo seu encanto, continua a olhar fixamente no espelho, se vira, abri o blindex do box e entra, liga a água e volta a sentir a água sobre seu rosto, parece pensar, sonha: quer se deitar, sentir os abraços e dormir lentamente em claro, em descanso com quem ela tanto espera.

Ilustração: Gustave Courbet - O sono
Texto: Victor Bello

Escrito corriqueiro após mais um dia pensativo

Chegando para somar. Texto de Tiago Quintes, amigo e colega de trabalho da TV. Valeu Tiago, com a mão estendida para seu talento. Victor

Hoje à tarde um anjo sentou numa mesa de bar.
Estávamos eu, meu amigo, o anjo, e o dono do lugar. Falamos de amores, de projetos, de poesia, de poetas, das dificuldades da vida, do futebol. A poesia prevaleceu. Porque é a mais singela.
E mesmo havendo frustração outra, em momento seguinte, o lamento não tardou em passar.
A poesia tarda, e nunca se vai tarde.
Em qualquer mesa de bar ou banco de praça onde exista o soar ou o ler, haverá um anjo sentado, concentrado.

Tiago Quintes é estudante de cinema da Universidade Estácio de Sá, bom leitor de poemas e observador de anjos sentado em mesa de bar.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Para começar a semana...

"Há um cio vegetal na voz do artista.
Ele vai ter que envesgar seu idioma ao ponto
de alcançar o murmúrio das águas nas folhas
das árvores.
Não terá mais o condão de refletir sobre as coisas.
Mas terá o condão de sê-las.
Não terá mais idéias: terá chuvas, tardes, ventos, passarinhos..."

Manoel de Barros - Retrato do Artista Quando Coisa.

Ouvindo: Victor Bello - Pra vitória.

A mulher difícil da cidade


Ela tinha dois celulares, deu o número só de um para ele, afinal por que daria o número do outro? Encontrou-a após o expediente, pediu para ele se sentar, tomar um chopp bem gelado com ela, aceitou na velha tradição carioca do chopp depois do trampo. Chegou a cogitar a boa da noitada, ela desconversou, já tinha a boa dela, falaram um pouco sobre alguns temas, ela sorriu, sorriu durante aquelas duas horas aguçadas da rua agitada da Voluntários, a luz da lua figurando sua reserva de esperança. Quando chegou um amigo dela, ela se virou, a volúpia assim se transformou, ao ficar nervosa ela apertava suavemente os lábios, o que fazia ser tudo mais excitante. O amigo dela não parou de falar, falou tudo que tinha para falar e continuou. Ele foi ao banheiro, quando voltou ela não estava mais lá, pagou a conta toda e o amigo dela disse:
- Cara, um carro passou aqui e pegou ela.
Em Botafogo é assim, as pessoas somem e outras aparecem. O celular dela desligado, aí veio a desilusão, pronto, as armadilhas da mente que vem lentamente, essa transição que prefere se afogar, fútil em desalinho e se transforma em outro, assim alivia a sua dor, sua válvula de escape se transforma em teias. Ele para, pensa e reflete, se o mundo fosse ao contrário, assim sem os desejos, sem os incômodos, sem esse eterno gozo incompreensível, que nos prende nesse mundo da carne.
E o cerne de que tanto tentou abdicar, os prantos que engarrafou seu coração, quer se fechar do desejo especialista em tecer redes.
É assim seu caminho, escolheu viver de falsas esperanças, mas mesmo em vão, segue acreditando, acreditando nos poetas, que o resgatam, que o salvam. Certa vez, um amigo de longa data, disse que o seu erro foi aquele de sempre se aprofundar nas mesmas dores, dores dos amores perdidos, dos amores proibidos, nas ilusões repetidas, mas mesmo assim acredita, acredita nos poetas, pois se eles estão certos ou não, não saberá o que poderá dizer, mas se para ele, nesse mar de insensibilidade do excesso que nos cerca, ele acredita, é com as unhas e dentes de seu corpo e de seu coração, que fará tudo girar em torno dessa crença, é essa vida que ele faz; e é com essa fé mesmo que cega na poesia, que segue levando na mais profunda sensação, de se admirar, sentir e lutar sempre por um grande amor....Ufa...Chega. Cansou de ser tolo por essa mulher, vai se enganar agora com outra e assim segue vivendo.

Ilustração: Quadro de Regina Lopes
Texto: Victor Bello

Ouvindo: Chico Buarque e Edu Lobo – A mulher de cada porto

Lavando o talo.

Tive o privilégio de curtir o show da banda de reggae das Ilhas Virgens, Midnite. Muitos que viajam em som estavam presentes, um show sensacional, como disse o camarada lavou a alma, mas se lavar alma, é quando temos uma sensação agradável, nesse caso, o show foi um banho, mas fica a pergunta, o que seca nossa alma? Voltando ao show, defini o som dos caras como “Reggae mântrico”, a pressão das linhas de baixo, a cadência dos músicos e a voz do vocalista Vaughn Benjamin, fazem da banda uma das mais singulares e originais dessa nova geração do reggae, o diferencial da banda está justamente nas fusões e possibilidades que a banda usa em torno de sua música, misturando o reggae roots, com o ragga e o powerreggae, entre outras influencias, a banda faz um som totalmente hipnotizante. Com uma carreira composta por uma obra já prolífica, Midnite nos apresentou um show inesquecível. Entre uns amigos meus, que estavam ao meu lado ouve um momento do show em que a discussão era a marcação do compasso da banda que no 4/4, hipnotizavam até o talo todos nós. Coisa de músico mesmo, esse seu ouvido em, Brow.
Vaughn é muito talentoso, tem um vocal poderoso e faz uma linha melódica marcante nas músicas. As letras da banda também são muito fortes, cercadas por mensagens espirituais e de cunho consciente. Salve, Midnite, Salve o show da madrugada de sábado para domingo no centro do Rio de Janeiro.

"- Bom, Midnite é uma união de pessoas que estão atrás da verdade no som e na palavra. Tentando reinstituir os meios originais de se viver e comer. Os modos corretos de se alimentar em nossa cultura, a qual o sistema acorrenta.

- Então, é muito mais que apenas música?

- Não, é um modo completo de se viver. Não é apenas música, é todo um modo de se pensar, falar e comer. Para simplesmente restabelecer, holísticamente, a retidão do pensamento, a limpeza do coração, mãos e espírito."

Vaughn Benjamin - o texto traduzido foi retirado da entrevista concedida a FOX TV (18 de fevereiro de 2002).

Link para baixar o álbum: http://rapidshare.com/files/12289878/4_-_Jubilees_of_Zion.rar

Ouvindo: Midnite – Ras to the bone

sábado, 13 de setembro de 2008

Seu Gonçalo.


Li hoje, o livro de contos, "O Homem ou é tonto ou é mulher", de Gonçalo M. Tavares, escrito para uma peça de teatro, levado ao palco em Portugal como um monólogo. O que me chamou a atenção neste livro foi como Gonçalo, usa de maneira talentosa a forma estilistica que desencadeia o livro, que são uma espécie de microcontos que formam um conto como um todo, o escritor vem sendo elogiado pela critica já há algum tempo, seus livros repletos de novas possibilidades de recursos linguisticos ganharam elogios também do consagrado escritor português José Saramago. Sigo atento aos escritores lusitanos já algum tempo, como Antonio Lobo Antunes, Inês Pedrosa e o romance que gostei banstante "Nenhum Olhar", de José Luís Peixoto; Gonçalo neste livro, ao tratar do homem moderno de maneira até cômica e irônica retrata esse homem repleto de contradições e angústias e cheio de excessos. Esse homem que lida com a correria das grandes cidades, os relacionamentos postos em dúvidas, que ama as mulheres e isso está no seu sangue e que acaba por nos dizer, afinal o que é isto tudo e o que afinal adianta ? Gonçalo acaba usando a língua a seu favor, com a coragem de reinveintar novas possibilidades de se fazer literatura, como o próprio afirma. Esse homem dos microcontos de Gonçalo sente em demasia, mas não expõe facilmente seus sentimentos é cercado por um fluxo de incertezas e pensa muito. Mas Gonçalo, seu livro suscitou em mim uma certa queixa se repleto de contradiçoes é esse homem, e isso não precisa nem ser uma evidência, nem uma obscuridade, que tipo de homem tonto é esse que cercado nesse mar de insesibilidades, nessa voz sem saída, ou seja, na multidão é poeta, vagabundo, errante, fisgador de ilusões, ou sei lá o quê ? Concordo em partes com o titulo, acho até poético, sem evidencias seu texto é interessante, mas agora fica a intenção de ler seus próximos escritos, o romance premiado Jerusalém e a série Bairro, que homenageia alguns escritores da literatura de todos os tempos, postos como personagens em uma obra ficcional. Acho interessante também, quando Gonçalo disse, conforme saiu na estrevista feita pelo caderno literário Prosas & Versos, do dia 6 de setembro, que os prêmio são vitrines para os seus livros, contudo, seu foco são os leitores, são aqueles leitores atentos a seus livros, e se numa rede que aparecem inúmeros peixes, mas com uma única linha ele pode dar atenção a um leitor singular e especial. Bacana, um escritor original no meio dessa multidão.

Ouvindo: Paulinho da Viola - Onde a dor não tem razão

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Por um mundo sem venenos

Vai uma dica de site e de mudança de hábitos também. A rede ecológica é uma iniciativa de pessoas que apoiam a relação direta entre os consumidores urbanos e pequenos produtores agroecológicos, ou seja, cai a prerrogativa de que alimentos orgânicos custam caro, pois na rede, compra-se diretamente de plantadores, produtos sem agrotóxicos e de produtores atuantes na área da economia solidária e sustentabilidade. Segundo a psicóloga e consumidora da rede Carolina Duarte, participante do programa Atitude.com, da terça-feira dia 09/09, com o tema "Consumo consciente", é superfácil se filiar a rede. O site dá todas as dicas de como adiquirir os produtos da rede, a história da rede e até algumas receitas. Fica aqui a célebre e consciente frase "Pensar globalmente, agir localmente", o pouco que movimentamos gera resultados em um âmbito maior, isso é fato, basta começarmos a agir.

http://www.redeecologica.org/

Dica de Livros: Cidadania Planetária - Daisaku Ikeda e Hazel Henderson
A vida dos animais - J. M. Coetzee

Ouvindo: Erykah Badu - In Love with tou

O Poeta Rumi.


Certa vez, Rômulo um amigo meu que não vejo já há algum tempo, me emprestou um livro chamado "Poemas Místicos", da coleção de poemas Divan de Shams de Tabriz escritos no séc. XII pelo poeta persa Jalal ud-Din Rumi, conhecido também no Oriente por Maulana Rumi e no Ocidente apenas de Rumi, como consta a Introdução de Poemas Místicos, segundo o teólogo Leonardo Boff, Rumi era um erudito professor de teologia, zeloso nos exercícios espirituais. Tudo mudou quando se encontrou com a figura misteriosa e fascinante do monge errante Shams de Tabriz. Como se diz na tradição sufi, foi "um encontro entre dois oceanos". Esse mestre misterioso iniciou Rumi na experiência mística do amor. Seu reconhecimento foi tão grande que lhe dedicou todo um livro com 3.230 versos o Divan de Shams de Tabriz. Divan significa coleção de poemas. Lê-se na poesia de Maulana Rumi, uma contemplação a vida ao mesmo tempo, uma árdua jornada em busca de autoconhecimento e trocas existenciais, Jalal deixa no leitor um sentimento de se aprofundar desde já nas coisas mais simples da vida como olhar atentamente o céu, ao amor pela unidade e a existência como um todo. Acabou Romulo, me presenteando com o livro, por quem sou muito grato e se para Jalal a forma em seus minimos detalhes é de uma voluptuosa vontade de viver, que o faz um dos poeta místicos mais importantes da história, Rômulo também sempre me inspirou com sua alegria de viver, desde quando viajamos juntos para a Chapada Diamantina, na Bahia. Lendo esse lindo livro, que veio parar em minhas mãos, sobre o quanto Rumi contempla o que há de mais belo na vida do ser, ao mesmo tempo que nos faz adentrar nas fabulosas histórias persas, tão cercadas de mitos e curiosidades, fica a primeira dica de livro do Blog, para quem gosta de poemas que inspiram as manhãs, tardes e noites de nossa jornada terrestre. Seguindo o pensamento de que os livros não param em nossas mãos por acaso, agradeço Rômulo mais uma vez que por sinal tem traços fortes de um bom rapaz persa. Que em uma bela manhã por sugestão, Rômulo que pela última vez que nos trombamos, estava estudando acupuntura possa me fazer uma sessão e batermos um bom papo sobre Rumi, também conhecido como poeta do amor, que ilustre nossas vidas com um sopro místico conforme sua poesia nos deixou.

A evolução da forma

Toda forma que vês
tem seu arquétipo no mundo sem-lugar.
Se a forma esvanece, não importa,
permancece o original.

As belas figuras que viste,
as sábias palavras que escutaste,
não te entristeças se pereceram.

Enquanto a fonte é abundante
o rio dá água sem cessar.
Por que te lamentas se nenhum dos dois se detém?

A alma é a fonte,
e as coisas criadas, o rios.
Enquanto a fonte jorra, correm os rios.
Tira da cabeça todo o pesar
e sorve aos borbotões a água deste rio.
Que a águanão seca ela não tem fim.

Desde que chegaste ao mundo do ser,
uma escada foi posta diante de ti, para que escapasses.
Primeiro, foste mineral;
depois, te tornaste planta,
e mais tarde, animal.
Como pode ser isto segredo para ti?

Finalmente foste feito homem,
com conhecimento, razão e fé.
Contempla teu corpo-um punhado de pó -
vê quão perfeito se tornou!

Quando tiveres cumprido tua jornada,
decerto hás de regrassar como anjo;
depois disso, terás terminado de vez com a terra,
e tua estação há de ser o céu.

Passa de novo pela vida angelical,
entre naquele oceano,
e que tua gota se torne mar,
cem vezes maior que o Mar de Oman.

Abandona este filho que chamas corpo
e diz sempre "Um" com toda a alma.
Se teu corpo envelhece, que importa?
Ainda é fresca tua alma.

Jalal ud-Din Rumi.

Ouvindo: Manhã de Carnaval - Paula Morelembaum & Ryuichi Sakamoto