segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Se brilhassem os faróis


Se brilhassem os faróis, o rosto sagrado,
Preso num octógono de insólita luz,
Murcharia, e todos os mancebos do amor
Pensariam duas vezes antes de cair em desgraça.
Os traços de suas íntimas trevas
São feitos de carne, mas que chegue o falso dia
E caiam de seus lábios as cores desbotadas,
Que as vestes da múmia exponham um peito antigo.

Disseram-me que pense com o coração,
Mas o coração, como a cabeça, conduz ao desamparo;
Disseram-me que pense com a pulsação
E, quando ela se acelerar, mude o ritmo da ação
Até que no mesmo plano se fundam os campos e os telhados
Tão rápido me movo ao desafiar o tempo, o tranqüilho fidalgo
Cujas barbas flutuam ao vento.

Ouvi o que muitos anos tinham a me dizer,
E muitos anos atestariam alguma mudança.

A bola que lançei quando brincava no parque
Ainda não tocou o chão.

Dylan Thomas - Poemas Reunidos (1934-1953)

Ouvindo: John Frusciante - Resolution

Um comentário:

Lorena . disse...

Conheço mais Frusciante que Dylan Thomas ,porém gosto muito do "não entres nessa noite acolhedora com doçura" ou algo assim.Vale ler se já não conhece.

; )