segunda-feira, 20 de outubro de 2008

O livro dos últimos leitores curiosos.


Eram alquimistas, bufões, poetas, metafísicos, inventores, idealistas e utopistas todos rodeados em volta do fogo candente, todos reunidos dentro de uma oca, uma oca de bambu e pau-a-pique cercada de espelhos por dentro. Quando cheguei nesta terra distante dos meus sonhos, bem na entrada havia um elefante e uma criança, um homem com cabeça de casco de tartaruga me recebeu na porteira, ele vestia uma bata, dessas bem brancas, brancas feito pluma e de linho macio. Esta Terra, parecia um pouco o sertão nordestino do Brasil, possuía poucas árvores e era cercado por uma ramagem extensa de plantas, fazendo um cercado grande em círculo e no meio a tal oca. Esse homem com cabeça de casco de tartaruga, me levou até a oca, ele disse para eu entrar com calma e que haviam muitos espelhos ali dentro e que no fundo desses espelhos haviam todas as ilusões possíveis, inclusive as dos meus sonhos. Os senhores, todos eles conversavam intercalados, parecia uma tribo primitiva que se emaranhavam em gestos e palavras, era um tanto engraçado, até que o homem que parecia ser o mais velho de todos, um senhor de cabeça chata, nariz comprido e bocas avermelhadas pegou em alguns livros e textos datilografados, havia ali enciclopédias, inúmeras correspondências de diversas partes do mundo, romances de Cervantes, Eça de Queiroz, Garcia Márquez e Cees Nooteboom, pelo que consegui observar entre alguns, textos que pareciam grandes dissertações e escrito na capa, algo referente a “As mil e uma noites e as ecrituras das cabeças de mulheres do passado" e o outro sobre “Ukbar”, retirados dos escritos de Borges, como alertava a contracapa. Tudo aquilo me chamou muita atenção, meu sonho parecia tão real, tudo era ao mesmo tão fantástico e ao mesmo tempo parecia tão sólido, diferente deste tempo líquido real que vivemos. Nessa terra dos meus sonhos, esse senhor veio até mim e disse ser um antigo alquimista das terras distantes da Turquia e Bufão aposentado de uma Escola circense da Itália, ele me falou sobre um livro que não consegui exatamente identificar qual era, disse para eu guardá-lo em meu coração, mesmo sem ter me dado, apenas escreveu um verso na palma de minha mão e disse-me que aqueles eram tempos preciosos, não entendi muito bem, acatei suas palavras e meu sonho me levou para o escuro novamente, assim, não consegui mais lembrar de nada depois, apenas dos versos que permaneceram em minhas mãos, eram eles: "Naquele tempo, procurava os entardeceres, os arrabaldes e a desdita; agora, as manhãs, o centro e a serenidade" Jorge Luís Borges, fiquei refletindo e curioso com tudo aquilo e foi quando despertei para acordar para outros sonhos e para outros livros.

Texto: Victor Bello

Ouvindo: Jan Garbarek - Red Wind

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