segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Texto de Fidel Castro, extraído da Revista Caros Amigos, de Agosto de 2008

O DESCANSO
Encontro com um Nobel de Literatura

Decidi descansar ontem, e me reunir com Gabo e Mercedes, que visitam Cuba. Como desejava rememorar quase 50 anos de amizade sincera!
Nossa agência de notícias, sugeridas pelo Che, acabava de nascer e contratou um modesto jornalista, chamado Gabriel García Márquez. Nem a Prensa latina nem Gabo umaginavam que seria um Prêmio Nobel.
Falar com Gabo e Mercedes quando vinham a Cuba convertia-se numa receita contra as tensões em que de forma inconsciente, mas constante, vivia um dirigente revolucionário cubano. Assim que chegaram, eles entregaram-me um presente. Continha pequenos volumes. São os discursos pronunciados em Estocolmo, Suécia, por cinco ganhadores do Nobel de Literatura nos últimos 60 anos. "Para que você tenha material de leitura" - disse-me Mercedes.
Pedi mais dados antes deles irem embora às 17h. Minha curiosidadenão cessava. Os cinco Nobel escolhidosna pequena coleção foram: William Faulkner (1949); Pablo Neruda (1971); Gabriel García Márquez (1982); John Maxwell Coetzee (2003); Doris Lessing (2007).
Gabo não gostava de proferir discursos. Passou meses à procura de dados, angustiado pela palavras que devia pronunciar. O Nobel é outorgado na capital de um país que não tem sofrido os estragos de uma guerra em mais de 150 anos, regido por uma monarquia constitucional e governado por um partido social-democrata onde um homem nobre como Olof Palme foi assassinado por seu espírito solidário com os países pobres. Não era fácil a missão. Não é preciso dizer como pensava Gabo. Basta transcrever os parágrafos finais do discurso, uma jóia da prosa, ao receber o Nobel em 10 de dezembro de 1982, enquanto Cuba, digna e heróica, resistia ao bloqueio ianque:
"Um dia como hoje, meu mestre William Faulkner disse neste lugar: Recuso-me a admitir o fim do homem" - afirmou. "Não me sentiria digno de ocupar este lugar, que foi dele, se não tivesse a consciência pela de que pela primeira vez, desde as origens da humanidade, o desastre colossal que ele se recusava a admitir há 32 anos é agora mais que um simples possibilidades científica. Diante desta realidade aterradora que, através de todo o tempo humano, deveu parecer uma utopia, os inventores de fábulas que em tudo acreditamos sentimos que temos o direito de crer
que ainda não é tarde demais para começar a criação da utopia contrária.
"Uma nova e arrasadora utopia da vida, onde ninguém possa decidir por outros até na forma
de morrer, onde realmente seja certo o amor e seja possível a felicidade, e onde as estirpes condenadas a cem anos de solidão tenham finalmente e para sempre uma segunda oportunidade sobre a terra"

Fidel Castro Ruz, 9 de julho de 2008, 19h26

Ouvindo: Gonzaguinha - Com a perna no mundo

Um comentário:

Desmentir_ficando disse...
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