sábado, 27 de março de 2010

Saxophone Days parte II - Solto nas nuvens

“Eu sempre quis que meu instrumento soasse como um Dry Martini”
Paul Desmond

O saxofone de Paul Desmond é algo absolutamente romântico, lírico e poético, se houvesse alguma definição para descrever o seu som eu diria ser um sax solto nas nuvens, um som voando limpo e ao mesmo tempo preciso. Paul Emil Breitenfeld (mudou mais tarde para Desmond, por considerar mais sonoro), nasceu em San Francisco, Califórnia, em 25 de Novembro de 1924. Filho de um organista que tocava em cinemas na época de filmes mudo, aos doze anos já tocava clarinete na escola San Francisco Polytechnic High e anos mais tarde começou a tocar saxofone alto. Neste mesmo ano, é recrutado para o serviço militar e toca com a banda do exército. Paul Desmond ficou conhecido por tocar no quarteto do pianista Dave Brubeck, onde tocou por 17 anos e compôs um dos maiores sucessos do grupo “Take Five”, uma de suas particularidades era o hábito de tocar longe do microfone, sempre em busca da melhor sonoridade. Desmond faleceu em 1977, deixando um legado de fraseados líricos e cristalinos para saxofonistas de várias gerações.

A California do pós-guerra foi sendo invadida por pessoas de diversas partes dos Estados Unidos buscando oportunidades e uma vida nova. Depois do saxofonista barítono Gerry Mulligan tocar em Birth of the Cool (1949), disco antológico de Miles Davis que já anunciava o chamado cool jazz (vertente do jazz mais leve e mais romântica) em contaponto ao Beboop, estilo já desenvolvido por mestres como Charlie Parker, Dizzy Guillespie, Bud Powell e Thelonius Monk e o hard bop que estava se desenvolvendo nos Estados Unidos, ele conseguiu tocar regularmente nas noites de Los Angeles e formou um quarteto com Chet Baker (trompete), Bob Whitlock (contrabaixo) e Chico Hamilton (bateria), segundo o crítico Gary Giddins: “A banda era tão serena que parecia o Oceano Pacífico. As ondas, o ar varrendo a costa Oeste e os jovens adoravam. Tornou-se muito popular nos campus e surgiu o movimento “Cool Jazz”, “West Coast Jazz”. E um dos grupos mais conhecidos da época, era o então quarteto de Dave Brubeck que contava com Dave Brubeck no piano, Eugene Wright no contrabaixo, Joe Morello na bateria e Paul Desmond no sax alto. O disco “Time Out”, de The Dave Brubeck Quartet é lançado em 1959 e contém “Take Five”, composta por Desmond em um dinamismo e lirismo impressionante, uma música no compasso 5/4. “Blues Rondo A La Turk” é uma música de Dave e ele explica que quando viajou para a Turquia notando que tocavam músicas no compasso 9/8, improvisando com em um blues, foi que pensou em criar nesse compasso também, isso porque Dave Brubeck teve ensimentos bem claros de seu mentor, o compositor francês Darius Mihaud: “Viaje pelo mundo e mantenha os ouvidos abertos. Use tudo o que ouvir de outras culturas e traduza para o idioma do jazz”. O resultado de “Time Out" foi o desejo de Dave Brubeck de passar por várias marcas de tempo na música que não eram usadas no jazz. O álbum foi o primeiro disco de jazz a vender 1 milhão de cópias, além do sucesso comercial, The Dave Brubeck Quartet lotavam shows, foram reconhecidos por diversos músicos, inclusive por Willie The Lion Smith, que quando ouviu um de seus discos sem que lhe dissessem quem estava tocando, disse: “Ele toca como a origem do blues”. Dave sabia o quanto devia a gerações mais antigas de músicos negros, Duke Elligton era um deles, no qual considera o maior dos compositores estadunidenses. O disco “Time Out” é um deleite, uma obra prima da música universal, repleto de romantismo, criatividade e ousadia. O quarteto com essa formação se manteve em ação até 1967, depois Dave Brubeck continuou esporadicamente se apresentando com Desmond, mas montou com Gerry Mulligan, Allan Dawson e Jack Six, um grupo que durou até 1972. O trompetista Wynton Marsalis disse certa vez que os melhores encontros de músicos são suaves e intensos, ele quis dizer que foi assim quando Miles se reuniu com outros músicos e lançou “Birth of the Cool”. Suave e intenso, também foi o encontro de Brubeck e Desmond, juntos eles entraram para a história do jazz, o piano de Dave Brubeck e o saxofone solto e alto nas nuvens de Paul Desmond. Abaixo o link em 2 partes da edição de 50 anos de Time Out. Abraços !!!

Parte 1:
Parte 2:

Ouvindo: The Dave Brubeck Quartet - Everybody's Jumpin'

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