segunda-feira, 29 de março de 2010

Saxophone Days parte III, por Cortázar


"Bem, estou com vontade de tocar e tocaria agora mesmo, se tivesse o sax, mas Dédée emperrou que só ela leva o sax ao teatro. É um sax formidável, ontem eu achei que estava fazendo amor com ele enquanto tocava"

Julio Cortazár
Conto: O Perseguidor
As amas secretas, ed. José Olympio, 2006

Ouvindo: Stan Getz & Bill Evans - Melinda

domingo, 28 de março de 2010

Vocação para mago

Aaron Parks é um pianista com uma carreira bastante promissora e criativa, pertencente a uma nova geração de músicos que renovam e modernizam o jazz junto com Brad Mehldau, Bad Plus, Tord Gustavsen e o grupo Rudder (já citado nesse blog). Parks conseguiu construir um dos grandes álbuns de jazz dos últimos tempos, o aclamado “Invisible Cinema”. Aaron Parks, nascido em 7 de outubro de 1983, está de ouvidos abertos com o seu tempo, observa-se nesse disco texturas e influências de indie rock e rock experimental, segundo Alê Duarte do site Radiola Urbana: “Parks subverte a principal característica do jazz desde o surgimento do bee-bop e se aproxima da música pop mais tradicional na execução e de novos níveis climáticos na sonoridade – como se o Radiohead resolvesse gravar um disco de jazz”. Parks que já foi sideman do excelente trompetista Terence Blanchard, com quem gravou alguns álbuns e também excursionou, já lançou três álbuns, inclusive o ótimo “Wizards” de 2001, que junto com um quinteto passeia por diversos estilos, fazendo uma viagem musical bastante interessante. Em entrevista Parks diz ter influências diversas que vão desde Carla Bley, Keith Jarrett, Wayne Shorter, Ornete Coleman e Miles Davis passando por Radiohead, Bjork, Blonde Redhead, Debussy e Bach. Apesar de sua virtuosidade, o pianista está a favor da experimentação e de mostrar um campo aberto para novos apreciadores de jazz, suas melodias soam bem contemporâneas e coesas, buscando a criatividade a todo instante. “Invisible Cinema” conta ainda com a participação do guitarrista Mike Moreno, Eric Harland na bateria e Matt Penman no baixo. A partir da faixa que abre o disco “Travelers”, já observamos que iremos adentrar em terreno desconhecido, se tratando de um álbum diferente de um disco de jazz mais purista. Moreno que entra a partir da segunda faixa tocando a inspiradíssima “Peaceful Warrior” acentua a qualidade da melodia fazendo um solo magistral na composição de Parks. Nas faixas “Into The Labyrinth” e “Afterglow”, o pianista também mostra que tem talento para ser um músico de concertos. Em "Nemesis" e "Harvesting Dance” o flerte de Parks com o indie e o rock experimental ganha contornos contemporâneos. Virtuosismo, originalidade e coragem estão presentes nesse extraordinário álbum lançado em 2008. Vida longa a Aaron Parks. Vida Longa ao seu jazz de olho no futuro. Abaixo o link. Good Trip !!!

Link:
http://www.zshare.net/download/5223839193d95293/

Ouvindo: Aaron Parks - Peaceful Warrior

sábado, 27 de março de 2010

Saxophone Days parte II - Solto nas nuvens

“Eu sempre quis que meu instrumento soasse como um Dry Martini”
Paul Desmond

O saxofone de Paul Desmond é algo absolutamente romântico, lírico e poético, se houvesse alguma definição para descrever o seu som eu diria ser um sax solto nas nuvens, um som voando limpo e ao mesmo tempo preciso. Paul Emil Breitenfeld (mudou mais tarde para Desmond, por considerar mais sonoro), nasceu em San Francisco, Califórnia, em 25 de Novembro de 1924. Filho de um organista que tocava em cinemas na época de filmes mudo, aos doze anos já tocava clarinete na escola San Francisco Polytechnic High e anos mais tarde começou a tocar saxofone alto. Neste mesmo ano, é recrutado para o serviço militar e toca com a banda do exército. Paul Desmond ficou conhecido por tocar no quarteto do pianista Dave Brubeck, onde tocou por 17 anos e compôs um dos maiores sucessos do grupo “Take Five”, uma de suas particularidades era o hábito de tocar longe do microfone, sempre em busca da melhor sonoridade. Desmond faleceu em 1977, deixando um legado de fraseados líricos e cristalinos para saxofonistas de várias gerações.

A California do pós-guerra foi sendo invadida por pessoas de diversas partes dos Estados Unidos buscando oportunidades e uma vida nova. Depois do saxofonista barítono Gerry Mulligan tocar em Birth of the Cool (1949), disco antológico de Miles Davis que já anunciava o chamado cool jazz (vertente do jazz mais leve e mais romântica) em contaponto ao Beboop, estilo já desenvolvido por mestres como Charlie Parker, Dizzy Guillespie, Bud Powell e Thelonius Monk e o hard bop que estava se desenvolvendo nos Estados Unidos, ele conseguiu tocar regularmente nas noites de Los Angeles e formou um quarteto com Chet Baker (trompete), Bob Whitlock (contrabaixo) e Chico Hamilton (bateria), segundo o crítico Gary Giddins: “A banda era tão serena que parecia o Oceano Pacífico. As ondas, o ar varrendo a costa Oeste e os jovens adoravam. Tornou-se muito popular nos campus e surgiu o movimento “Cool Jazz”, “West Coast Jazz”. E um dos grupos mais conhecidos da época, era o então quarteto de Dave Brubeck que contava com Dave Brubeck no piano, Eugene Wright no contrabaixo, Joe Morello na bateria e Paul Desmond no sax alto. O disco “Time Out”, de The Dave Brubeck Quartet é lançado em 1959 e contém “Take Five”, composta por Desmond em um dinamismo e lirismo impressionante, uma música no compasso 5/4. “Blues Rondo A La Turk” é uma música de Dave e ele explica que quando viajou para a Turquia notando que tocavam músicas no compasso 9/8, improvisando com em um blues, foi que pensou em criar nesse compasso também, isso porque Dave Brubeck teve ensimentos bem claros de seu mentor, o compositor francês Darius Mihaud: “Viaje pelo mundo e mantenha os ouvidos abertos. Use tudo o que ouvir de outras culturas e traduza para o idioma do jazz”. O resultado de “Time Out" foi o desejo de Dave Brubeck de passar por várias marcas de tempo na música que não eram usadas no jazz. O álbum foi o primeiro disco de jazz a vender 1 milhão de cópias, além do sucesso comercial, The Dave Brubeck Quartet lotavam shows, foram reconhecidos por diversos músicos, inclusive por Willie The Lion Smith, que quando ouviu um de seus discos sem que lhe dissessem quem estava tocando, disse: “Ele toca como a origem do blues”. Dave sabia o quanto devia a gerações mais antigas de músicos negros, Duke Elligton era um deles, no qual considera o maior dos compositores estadunidenses. O disco “Time Out” é um deleite, uma obra prima da música universal, repleto de romantismo, criatividade e ousadia. O quarteto com essa formação se manteve em ação até 1967, depois Dave Brubeck continuou esporadicamente se apresentando com Desmond, mas montou com Gerry Mulligan, Allan Dawson e Jack Six, um grupo que durou até 1972. O trompetista Wynton Marsalis disse certa vez que os melhores encontros de músicos são suaves e intensos, ele quis dizer que foi assim quando Miles se reuniu com outros músicos e lançou “Birth of the Cool”. Suave e intenso, também foi o encontro de Brubeck e Desmond, juntos eles entraram para a história do jazz, o piano de Dave Brubeck e o saxofone solto e alto nas nuvens de Paul Desmond. Abaixo o link em 2 partes da edição de 50 anos de Time Out. Abraços !!!

Parte 1:
Parte 2:

Ouvindo: The Dave Brubeck Quartet - Everybody's Jumpin'

sábado, 20 de março de 2010

Uma Grande Homenagem ao Maestro Soberano !

O talentosíssimo pianista Fred Hersch é ao lado de Tord Gustavsen e Aaron Parks, um dos pianistas contemporâneos que eu mais gosto, sua maestria e dedicação ao piano estão a favor da sensibilidade e da técnica apurada, segundo o escritor David Hajdu autor da biografia de Billy Strayhorn, o pianista e compositor estadunidense Fred Hersch seria o expoente de um jazz para o século XXI. Nascido em Cincinatti, Ohio em 1955, Fred começou a aprender piano bem cedo e estudou no New England Conservatory of Music em Boston, mas radicou-se em Nova York, onde vive desde 1977. Ele já tocou com Sam Jones, Billy Harper, Joe Henderson, Lee Konitz, Charlie Haden entre outros. Em sua jornada, Fred mostra ligações com o jazz de Thelonius Monk e Charles Mingus, sendo muito influenciado também pela música brasileira, já tendo trabalhado com as cantoras Leny Andrade e Luciana Souza. Em 2009, Fred lançou um álbum em homenagem ao compositor Antonio Carlos Jobim, fazendo um disco incrivelmente bem elaborado e sensível, o pianista passeia por encadeamentos rítmicos com leveza e profundidade, utilizando estruturas clássicas nos arranjos, como é o caso de "O grande amor", em que ele realça a melodia envolto de uma técnica habilidosa e "Insesatez" em que ele alterna o andamento ora suave e depois avança, fazendo uma linda ponte conceitual para esta canção. O disco conta ainda com a participação do percussionista Jamey Haddad, que aparece em "Brigas Nunca Mais" e Hersch encerra o álbum com a clássica "Corcovado", onde mescla notas meditativas com uma harmonia estruturada, exaltando a linda melodia da canção. Lembrando que em 1998, Fred lançou o ótimo disco "Sing We Know", ao lado do guitarrista Bill Frisell, onde a versão para "Wave" de Tom Jobim é extremamente bela. Fred Hersch plays Jobim, é um disco sensacional em que o artista traz um frescor original para a obra de Jobim, extremamente revigorada e prazeirosa. Uma grande homenagem ao nosso maestro Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, o Tom. Abaixo o link !!!

http://rapidshare.com/files/312510149/Fred_Hersch_plays_Jobim.rar

Ouvindo: Fred Hersch - Meditação

quinta-feira, 11 de março de 2010

Considerações sobre o Jazz, por McLuhan.

"A palavra Jazz vem do francês Jaser, conversar. O Jazz, de fato, é uma forma de diálogo entre instrumentistas. Estas novas formas, que muito contribuiram para recuperar o mundo vocal, auditivo e mimético que vinha sofrendo a repressão da palavra impressa, também inspiraram os estranhos novos ritmos da era do Jazz, aquelas várias formas de síncope e descontinuidade simbolista que como a relatividade e a física quântica, anunciavam o fim da era de Gutemberg, com suas macias e uniformes linhas tipográficas. Se o Jazz é considerado o mecanismo em direção ao descontínuo, ao partipante, ao espontâneo e ao improvisado, também pode ser visto como retorno a uma espécie de poesia oral, em que a interpretação é ao mesmo tempo criação e composição".

Marshall McLuhan, no capítulo "O Fonógrafo" do Livro O meios de comunicação como extensão do Homem (1964).

quarta-feira, 10 de março de 2010

O Grande Bud !

É sempre bom ressaltar a importância de Bud Powell na modernização do jazz, sendo ele um dos principais protagonistas ao lado de Charlie Parker, Thelonius Monk e Dizzie Gillespie na criação do bebop. Bud nasceu em 1924, em Nova York e começou a tocar com 5 anos de idade, aos 7 anos já acompanhava músicos de jazz em concertos e ensaios para ser admirado por outros músicos. Tornou-se profissional aos 15 anos e em 1941, Bud já possuia um nome estabelecido na cena jazzística, quando é convidado pelo ex-trompetista da orquestra de Duke Ellington, Cootie Williams, para excursionar com sua banda. Em seguida agravam-se seus problemas com alcoolismo e anos depois é preso com Thelonius Monk por porte de drogas. Morou na França de 1959 a 1964 e compôs músicas dedicadas ao povo francês, que tanto apreciava a sua música. De volta a Nova York levando uma vida atribulada e com problemas de saúde, Bud vem a falecer em 1966. Ele gravou com Charlie Parker, Dizzie Gillespie, Miles Davis, Sonny Rollins, Dexter Gordon entre outros. Bud Powell escreveu sua história com composições que continuam sendo tocadas até hoje. Os momentos mais luminosos de sua carreira estão gravados pela Blue Note em 3 sessões, realizadas em 9 de outubro de 1949, as pérolas "Dancing of the Infidels" e "Bouncing with Bud", com Fats Navarro (trompete) e Sonny Rollins (saxofone), "Un Poco Loco" com Curley Rusell (baixo) e Max Roach (bateria) em 1° de maio de 1951 e em 14 de agosto de 1953 grava "Glass Ecloure". Disponibilizei uma coletânea com um apanhado dessas gravações que mostram como o piano de Bud é inspirador. Abaixo o Link:

terça-feira, 9 de março de 2010


Meu professor Mauro Senise vai tocar nesta terça-feira, dia 9 de março, no Teatro Carlos Gomes, às 19 horas com o grande pianista Gilson Peranzzetta com quem forma um duo que já tem 20 anos de história e música de altíssima qualidade. Nesse espetáculo eles convidam Rildo Hora. Na sexta-feira passada fui no show de meu mestre Mauro com o Gilson e a harpista Silvia Braga, lançando o cd "Melodia Sentimental" e saí de lá emocionado e nas nuvens, um lindo espetáculo de grande música e sensibilidade artística. Vale a pena chegar lá no Carlos Gomes, Praça Tiradentes 19.

O LABORATÓRIO RUDDER

Uma espécie de encanto e magia vem à tona quando o grupo Rudder sobe no palco. Projeto formado por músicos da cena instrumental e avant-garde nova-iorquina, que geralmente tocam em pequenos clubes, o grupo Rudder é sinônimo de experimentação e de um som que gravado em estúdio expõe a intenção do que esses músicos fazem ao vivo. Rudder utiliza aparatos e disponibilidades tecnológicas para criar e improvisar ao vivo e texturas e efeitos hipnóticos para quem ouve seu som, um laboratório fusion jazz que vai de Electroclash(termo criado pelo Dj americano Larry Tee para identificar um tipo especial de música eletrônica que estava surgindo em Nova Iorque por volta do ano 2000) ao Nu-Jazz . Tive o privilégio e o prazer de assistir o show deles no Festival de Jazz & Blues de Rio das Ostras em 2009 e fiquei extasiado e maravilhado com o som dos caras, em primeiro lugar por que sou um grande fã do saxofonista Chis Cheek formado em Berklee e de formação jazzística, Cheek para mim é um dos melhores saxofinistas dessa geração, ele já tocou com gente como Charlie Haden, Bill Frisell, Joshua Redman, Paul Motian entre outros. Chris é também o grande diferencial e músico brilhante do grupo, com seu saxofone em punho, ele hipnotiza a platéia tirando efeitos de seu saxofone ligado em pedais de guitarra que criam muitas das frases melódicas experimentais do grupo. Rudder também conta com o tecladista Herry Hey, que usa e abusa de texturas sintetizidas e sampleadas, que já tocou com Bill Evans, Till Broenner e Rod Stewart e ainda também no grupo o baterista Keith Carlock que possui uma passagem pelo grupo Steely Dan e integrou o trio do guitarrista Wayne Krantz e no baixo Tim Lefebvre que faz parte da banda do programa "Saturday Night Live". Segundo as palavras do próprio Tim: "Ao invés de soar como quatro indivíduos, buscamos atmosferas sonoras", está aí a explicação para o som alucinante do quarteto, afinal para que serve um laboratório, senão experimentar. Consegui o álbum Matorning lançado em 2008 e chapei na primeira audição, um disco fantástico e viajante. Abaixo o disco. Good Trip !!!

domingo, 7 de março de 2010

Orton, Very Well !!! My Muse

Uma das artistas e cantoras mais interessantes e criativas da contemporaneidade é sem dúvida Beth Orton, nascida em Derehan, Inglaterra, em 1970. Beth lançou em 1999, Central Reservation um amadurecimento musical em relação ao seu álbum anterior, Trailer Park (1996). Em Central Reservation, Orton passeia pelo folk habitual de seu trabalho com pitadas de música eletrônica. Em momentos do disco percebemos uma sonoridade com elementos de trip hop, Beth que já colaborou com artistas da cena eletrônica como o Chemical Brothers em meados dos anos 90, nesse álbum usa elementos de música eletrônica apenas como ferramenta e não como uma regra, já que o que prevalece no disco é o seu ambiente acústico e a boa perfomance vocal da cantora. O disco que contém as partipações de Ben Harper tocando slide guitar na faixa de abertura "Stolen Car" e do músico de folk Terry Callier em "Pass in Time", é muito bem construído e que segundo a declaração da própria dada a revista Rolling Stones na época de lançamento do disco, ele possui uma vibração própria. A melancolia de Orton em certos momentos rende boas faixas como o folk "Blood Red River", e a dylanesca "Love Like Laughter". Em 2006, Orton lançou o bom Confort of Strangers, um trabalho mais direcionado ao folk tradicional, mas foi em Central Reservation que Beth deixou um registro sobre o seu telento e sua personalidade musical, um disco muito bom que vale a pena ser ouvido. Abaixo o link do álbum.
Link:
http://www.easy-share.com/1904087234/0888.rar

Ouvindo: Beth Orton - Stolen Car